O que dizer quando um dos ícones gastronómicos de um país é a batata frita? Pois, é complicado.
Instintivamente levanta-se a sobrancelha e a instaura-se a sobranceria. O erro é comum, julgar-se o que é simples, ou que parece simples. Assim que ultrapassamos a cortina do julgamento, um novo mundo de crocantes possibilidades se revela.
Depois de passarmos 10 dias de férias em 4 cidades da Bélgica, identifiquei um denominador comum em todos os lugares e marcas dedicados às iguarias belgas, fossem frituras, waffles, cerveja ou chocolate. Chama-se brio. Quando esta qualidade está presente na manufatura, acontece magia. E em todas as friteries e fritures que visitámos, mesmo sendo as batatas fritas todas diferentes entre si, lá estava o brio a temperá-las. O que é essencial para a batata frita belga é a dupla fritura. Originalmente eram fritas em gordura de vaca mas hoje em dia há muitas friteries que usam óleo vegetal para uma experiência vegan friendly. E não ficam nada atrás, se escolhido um bom óleo e os timings estiverem aprimorados.
Muito crocantes, crocantes por fora e macias por dentro, finamente crocantes e densas, todas as que provámos eram um espetáculo de texturas. Posso dizer que as minhas favoritas me souberam como se estivesse a comer puré de batata aos palitos.
E os molhos? As opções são tantas que o momento de escolher não é uma experiência fácil para pessoas que sofrem de ansiedade. Ou então podem fazer como eu e pedir à sorte sem medo de ser surpreendido. Numa dessas aventuras descobri o molho Joppie. Cheirou-me (ou soube-me) a algo inventado ao acaso. Um molho à base de maionese com a adição de caril em pó, cebola e o toque de acidez de um pickle. A verdade é que o empregado que nos estava a atender disse que esse molho teve tanto sucesso junto da clientela que começaram a surgir versões comerciais nas prateleiras dos supermercados.
Se a batata frita é a estrela, o que são os acompanhamentos? Várias opções de enchidos, salsichas frescas ou panadas, croquetes de queijo e de camarão, espécies de discos de noodles panados, não tivéssemos nós caminhado 15 quilómetros em média por dia e ficaria sem calças que me servissem.
2000 caracteres disto e já só salivo a pensar num cone gigante de batatas cobertas de maionese. Primeiro a picar com os dedos, depois com aquele garfinho ridículo e por fim já só a deixar cair os estilhaços restantes para a boca. Se se esforçarem o suficiente, conseguem visualizar-me com um sorriso na cara e a barba toda suja.
PS: Não se esqueçam que chamar french fries às batatas fritas é injusto e falacioso. São belgian fries, isso sim.
Garibaldi